15.10.01

Ode à mesmice do planeta

Uma guerra acontece a milhares de quilômetros daqui.
Não me preocupo com isso.
Porque sei que você mora num bairro próximo de mim
Muito provavelmente bem a salvo.

Hoje um carro em alta velocidade atropelou um homem
A uns 100 metros da minha casa.
Ele morava no prédio em frente. Sei que não poderia ser
Um dos seus familiares, e assim,
Nada mais eu quis saber sobre o incidente.

Meu Flamengo venceu uma partida heroicamente.
Jogou fora de casa, começou perdendo e saiu triunfante, com dois golaços.
E daí?
Você é Fluminense, que empatou sem festa em 1 a 1,
E futebol nunca foi marcante na sua tão tranqüila vida.
Até agora nem sei quem fez os gols.

Meu único interesse hoje, ao abrir as páginas do jornal,
Ao ver televisão, ao conversar com qualquer um que me traga novidades,
É saber como você está, se vai bem,
Se pensa em mim, se quer voltar.

Porque o mundo sempre teve guerras, carros sempre mataram gente,
E o Flamengo de vez em quando sabe dar alegrias.
Nada em volta de nós está tão diferente de quando nos amamos.
Só nós mudamos.

Talvez as redações esperem de nós boas notícias,
Algo que possa ser primeira página, manchete.
“Último dia de mesmice do planeta: eles voltaram”.
Nesse dia, serão assinados todos os acordos de paz,
As ruas da cidade serão reservadas aos pedestres,
Nenhum time entrará em campo, para que não haja na boca de ninguém
O menor gosto de derrota,
E não teremos nada a declarar, senão um ao outro.

Eles que achem outras coisas pra fazer
Do que ficar se metendo em nossa vida.

Nenhum comentário: