6.10.11




MIGUEL NICOLELIS PARA A BOLA DE OURO EM 2014


A história do orgulho brasileiro é curta. Nasce por volta de 1950, com a construção do maior estádio do mundo, e tem seu auge em 1970 com o tricampeonato, mas mesmo ali a presença de uma ditadura já nos forçava a relativizar o peito inflado. Desvãos, desvios e arrepios históricos nos convidam a ter muito pouca admiração pela nação que somos. 


Somos um país triste e, sim, caro Bertolt Brecht, precisamos desesperadamente de heróis. A sorte é que, vez por outra, eles aparecem. Meu brasileiro vivo preferido é o neurocientista Miguel Nicolelis, que coordena um laboratório na Universidade Duke, na Carolina do Norte, Estados Unidos.  


Entrevistei-o por telefone uma vez, em 2006, quando fiz na Folha de S.Paulo um suplemento sobre futebol com craques de outras áreas – filósofos, literatos, artistas, acadêmicos. Miguel representava os cientistas e deu sua opinião sobre o esporte. Desse jeito, vim a saber que ele é hoje um dos pesquisadores do mundo mais próximos de fazer um tetraplégico voltar a andar – ou, no mínimo, a sentir. Na quarta passada, a revista científica Nature publicou resultados impressionantes dele. 


Sua equipe conectou computadores diretamente ao cérebro de macacos, por meio de eletrodos e cabos. Com isso, cada macaco controlou na tela a imagem de um braço virtual, que “tocava” objetos visualmente idênticos, mas com texturas diferentes. As texturas emitiam estímulos até à área do cérebro que controla o tato; ali eram captados e diferenciados – pela primeira vez, uma via de mão dupla se estabeleceu em conexões cerebrais diretas.  


A cada vez que o macaco identificasse uma textura definida, ganhava um brinde – suco de laranja. Com o tempo, os macacos conseguiram associar a textura à “recompensa”, a fim de conseguir mais suco. Como na tela do computador os objetos virtuais eram idênticos, a visão não podia ajudá-los – só o tato do braço virtual.


Traduzindo, pessoas com deficiências motoras poderão controlar – sempre através do cérebro! – próteses ou roupas robotizadas que lhes darão movimento e sensações de firmeza, temperatura e até, por que não?, carinho.  


Miguel sonha que o 1º pontapé do Mundial de 2014 seja dado por uma criança tetraplégica beneficiada por um mecanismo desenvolvido por sua pesquisa. Se der certo, pense: será que precisaremos de mais alguma vitória na Copa?