7.4.11

WELLINGTON, OU A ÂNSIA DE EXPLICÁ-LO

Coluna do Destak para sexta, 8 de abril

Filho adotivo de dita esquizofrênica. Fanático religioso, berram alguns, com certo prazer. Suposta vítima de bullying, chutam. Barbudo, terrorista simpático ao islamismo, classificam. “Animal” é a posição oficial. Assassino premeditado é o óbvio. “Ele é portador do vírus HIV, está na carta!” Ninguém lê isso na tal carta, mas repete. Vai que uma dessas explica.

Nos próximos dias, o cadáver de Wellington Menezes de Oliveira será esquadrinhado, dissecado, exumado e examinado pelo nosso desespero na busca da compreensão do mal. Queremos saber o que ele apresentaria como razões – como se houvesse alguma que pudéssemos aceitar – para efetuar de 30 a cem disparos contra crianças na escola onde um dia estudou.

A minha impressão é de que sempre perderemos o foco em chutes e análises apressadas. Assim como não se cria um Wellington da noite para o dia, não se explica um Wellington menos de 24 horas depois de sermos apresentados a um. Fora que boa parte das “explicações” revela menos dele e mais dos nossos preconceitos – cultura pop com ares de psicologia forense também cola, a gente gosta de séries policiais.

Já perdêramos esse foco antes, quando o nosso olhar oprimido-rancoroso notava tragédias em escolas americanas com certo desdém – tudo era fruto da paranoia da América. “A descontração nos salva, a cultura armamentista deles se volta contra eles mesmos.” Tudo problema deles. Ver a chacina escolar ocorrer – não numa high school  do Meio-Oeste americano, mas na zona oeste carioca – é mais complicado. Essa paranoia não era nossa. E agora, como fica?

É mais fácil aceitarmos, primeiramente, que Wellington jamais fará sentido. Assim começaremos a compreendê-lo.

Seja lá quais forem, os gatilhos que o transformaram no mais novo monstro nacional normalmente não têm efeito igual na esmagadora maioria das vítimas de traumas, mágoas, rancores e transtornos mentais.

O certo é que uma escola pública não pode permitir que qualquer ex-aluno entre em suas dependências a fim de dar “palestras”, sem referências de quem ele é hoje ou o que faz. Todos os criminosos, um dia, foram crianças; sorriam, brincavam e pareciam encarnar o bem.