23.2.12

ENTREGA DE ESCOLAS, APURAÇÃO DO OSCAR

Tão logo acaba a apuração dos desfiles das Escolas de Samba, vamos nós para a grande apuração do cinema. E eu pensava, ao ouvir as notas da Sapucaí, como seria interessante se a Academia de Hollywood decidisse adotar nossa fórmula de premiações.

Saímos do salão de convenções, entramos numa praça aberta, com um sol tórrido, e vemos astros e estrelas do cinema mundial se abanando, com papel e caneta na mão, maquiagens derretendo, óculos escuros dos mais variados designs, e toda aquela vontade de levar a estatueta – que seria apenas uma, que premiaria a produção campeã.

Basta de discursos longos e de números musicais malas. Chega de sorrisos forçados só para manter a noblesse oblige. As 20 melhores produções receberiam notas distribuídas por quesitos, todos eles cantados por Billy Crystal, microfone com fio em punho, atrás dos indefectíveis logos dos patrocinadores – cervejarias e a prefeitura de Los Angeles em destaque.

Seria lindo ver Martin Scorsese e Clint Eastwood, cada um em sua mesinha de plástico, papel e caneta na mão, ladeados por seus produtores associados encabeçando bonés, e reclamando em voz alta: “COMO ASSIM 9,2 EM ROTEIRO ORIGINAL?”

Enquanto isso, as entrevistas com os atores e atrizes, eles de regata, elas de shortinho. Meryl Streep falando da emoção de defender os estúdios XYZ, que entrou em cena com muita garra defendendo as cores da “Dama de Ferro” e mandando aquele abraço para o pessoal de Nova York. Leonardo DiCaprio, ignorado por “J. Edgar”, seria tirado à força com sua galera, acusando a Academia de se curvar às francesices de Jean Dujardin em o “Artista”. (Aliás, neste ano, não sei se você sabe, mas “A Árvore da Vida” vai levar 10 no quesito Evolução. Dizem que as notas já vazaram)

Não iam faltar acusações de roubalheira. Woody Allen, com sua habitual ironia, diria que os jurados americanos não o entendem como os europeus, enquanto Steven Spielberg seria sempre acusado de engessar os longas com apuro técnico frio e calculista, além de contar com o lobby que favorece o jogo de bichos como “Cavalo de Guerra”.

Enfim, não sei se conseguiríamos exportar nossas fórmulas. Mas é preciso evitar que, pelo menos em São Paulo, o desfile abandone a fórmula dos pontos corridos e chegue no mata-mata.

10.2.12

A chantagem de farda será anual?


Policiais militares e bombeiros não ganham à altura do risco que correm. Disso ninguém discorda, e sabemos muito bem que isso é fruto de décadas de prioridades equivocadas. Já comecemos então duvidando das "preocupações sociais" de qualquer governo que não remunera bem os seus cidadãos armados e fardados que são constitucionalmente proibidos de fazer greve.

Porque, sim, esta é outra verdade: bombeiros e policiais militares não podem fazer greve. Não podem se amotinar, nem podem ocupar quartéis (como fizeram os bombeiros do Rio no ano passado) ou edifícios do Legislativo (como fazem os policiais militares na Bahia). Suas paralisações são terrorismo com a população.

É claro que os militares estaduais são seres humanos com direitos à liberdade de expressão, mas suas funções estão a serviço da segurança pública, suas obrigações com hierarquia e disciplina estão embutidas na sua missão, que é defender os civis e fiscalizar as leis. Está evidente desde o momento em que prestam o concurso, e não há pensamento liberal-esquerdista sério que imagine um Estado brasileiro sendo governado sem polícia.

É até bonito quando partidos que estimularam greves de militares no passado (como o PT de Jaques Wagner, que apoiou greve baiana em 2001) decidem abraçar a Constituição. Sinal de que nem sempre o poder só corrompe.

Dilma, que também é PT, está certa quando diz que não pode haver anistia aos rebeldes da Bahia. O raciocínio é simples: se forem anistiados, repetirão no próximo ano a mesma quebra de comando, a omissão de serviço e a mesma afronta à ordem pública que deveriam defender. O produto disso é uma chantagem anual e inconstitucional sempre perto do Carnaval - e por favor, perdoem-me as rimas.

Por fim, é imoral que eleitos pelo povo apoiem esse terrorismo. A deputada estadual Janira Rocha (PSOL-RJ), que foi flagrada aconselhando a articulação nacional do movimento grevista em gravações com o cabo bombeiro do Rio Benevenuto Daciolo, dá mostras de que não tem mínimas condições de legislar. Já morreram mais de 140 pessoas na Grande Salvador durante a greve da Bahia. Por mais que mereçam aumento, não é com conivência com a desordem pública e omissão criminosa que as forças responsáveis pelo bem-estar dos cidadãos vão justificá-lo