18.7.13

"Sorria, PM, você está sendo filmado"



Centro Integrado de Comando e Controle: nenhum streaming?



Os acontecimentos da quarta, no Leblon, mostram o fim do romance entre a juventude zona sul e a PM do Rio, que surgiu na esteira de “Tropa de Elite” e das UPPs.

E veio pelas mãos de uma nova forma de jornalismo que surgiu com as passeatas: o streaming ao vivo e independente, de canais como PósTV, Mídia Ninja (braço audiovisual criado em SP pelo Fora do Eixo, coletivo político-cultural aliado ao PT, segundo o próprio Rui Falcão, presidente do partido, no "Roda Viva") e outros.

Com câmeras de celular 4G e voluntarismo, transmitiram as cenas que as emissoras de TV – agora alvo dos protestos – só mostravam por helicópteros. Revolucionaram e incentivaram muitos outros a fazerem o mesmo, como autodefesa e como gesto que realmente desafia o lado mais mofado da violência de Estado. Se as forças do Estado são capazes de tantos erros na contenção de manifestações, é de se pensar (e em muitos casos lembrar) o que fazem onde nada se registra.

Conseguiram também o que era o sonho de nove em cada 10 blogueiros bancados pelo PT: provar a obsolescência da mídia estabelecida. Em pelo menos dois aspectos isso está bem claro: a cobertura sem cortes da violência policial e a tradução do que ocorre nas ruas são muito mais ágeis por essas transmissões independentes.

A única saída da PM – se é que há uma – é adotar a mesma arma: filmar e transmitir ao vivo na web suas ações, no asfalto ou no morro, sem medo da transparência, no mínimo para comparar as versões. Não adianta postar no YouTube apenas alguns vídeos editados, se a polícia é justamente o lado que está sob suspeita.

Se são os “vândalos” que iniciam os combates, que isso seja demonstrado, para que as imagens da violência não sejam capitalizadas pelo lado que talvez a provoque mirando maior cacife político contra quem comanda as polícias.

Se meninos podem fazer isso, o Centro Integrado de Comando e Controle, aberto em maio, também pode. Se não puderem – já que se recusam até a manter as identificações nas lapelas antes as câmeras independentes– é porque ficou claro que o modelo militarizado da polícia chegou a um beco sem saída.

Em tempo: não pode o governador Cabral dizer que seus rivais querem “antecipar o calendário eleitoral”, se ele mesmo cogitou de renunciar para agilizar a reeleição de Pezão, que confirmou isto em outubro de 2012 ao jornal “Extra”. Horas depois, sua PM pediu ajuda justamente a um desses rivais, o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL). Como fica?

11.7.13

Secretaria de Táxi-Aéreo

Político bom é aquele que tem medo de voar. É a conclusão a que chego quando vejo que o secretário estadual da Saúde do Rio, Sérgio Côrtes, não vê problema em usar o helicóptero que sua pasta mantém para a imprescindível tarefa de transportar órgãos para transplantes.

Não é preciso ser formado em medicina para saber que o surgimento de um órgão humano para transplante se dá de forma completamente aleatória – e que um helicóptero precisa estar de prontidão para cumprir sua tarefa tão logo ocorra a oportunidade.

É como se um secretário de Transportes tirasse quatro ônibus de linhas municipais a fim de  transportar sua comitiva para qualquer compromisso – oficial ou não – afetando a linha e quem utiliza o serviço.

É como se algum secretário de Educação fechasse uma escola perto de sua casa por uma semana de dias letivos, a fim de promover um evento – oficial ou não – sem chance de repor as aulas para os estudantes de lá.

Perceberam? Não é apenas a falta de decoro e o excessivo gasto de dinheiro público. É a mais bem acabada e descarada apropriação pessoal de um serviço público.

Que isso seja feito numa pasta de Saúde e que se tente achar alguma justificativa – “as viagens são para compromissos oficiais” – são sintomas de como nossos políticos estão irremediavelmente desconectados da realidade, hiperseguros da imobilidade adquirida em seus cargos e desprovidos até de humanidade.

Leia a matéria do jornal "Extra" aqui.

4.7.13

Renan da Passagem Livre


Viaja porque precisa, volta porque te ama


O presidente do Senado, Renan Calheiros, bateu uns recordes ao justificar seu uso de avião da FAB para o casamento da filha do senador Eduardo Braga, seu correligionário no PMDB, em Trancoso, Bahia.

Afirmou que foi convidado como presidente do Senado Federal, ou seja, estava em representação do Poder Legislativo, e levou sua mulher, Verônica. Estranho: se Eduardo Braga é senador pelo Amazonas e sua filha se casou num dos principais balneários da Bahia, não há a menor chance de ter sido compromisso oficial.

Não que Renan não possa estar em festas de arromba. Mas não me consta que o Legislativo precisa de alguém que coma, dance e até fique bêbado (nem sei se foi o caso, mas, por que não?) num casamento. A conclusão é óbvia: foi porque quis.

O senador foi descoberto pela “Folha”, um dia depois do presidente da Câmara, Henrique Alves (também do PMDB – percebam a coerência ideológica da sigla), ter admitido que levou comitiva de sete parentes à final da Copa das Confederações. A transparência do Legislativo, pelo visto, depende da mídia.

Ao menos, resta um consolo: quando Renan defendeu projeto de passe livre para estudantes no Senado – a fim de responder às demandas das ruas –, estava sendo o mais coerente possível com o seu pensamento a respeito de transporte público.

Aguardo ansioso o projeto da Passagem Aérea Livre.