28.10.12

HADDAD A GO-GO






Tava na festa da democracia
e na vitrola Haddad a go-go
descendo a Augusta pra pintar de rosa
aquela praça que vc montou

Senti na pele aquela energia
do Amor sim e Russomanno não
Ganhei do Serra no segundo turno
Nem tive medo mais do mensalão

Quase no fim da festa
Maluf com você apareceu
na minha fantasia
só tinha Haddad, Lula e Dirceu

REFRÃO (X2)
Eu só cantava 'pense novo, pense',
e te abraçava 'pense novo, pense'
lembrar você que a Marta não foi tão maaaal.

25.10.12

Por ora, nada será 'histórico'





Para explicar que nada é “histórico” enquanto ainda é vivido, o acadêmico italiano Claudio Magris relembra no livro “Danúbio” (1986) o que um militar húngaro, o conde Károlyi, escreveu sobre a rendição de sua aliada Bulgária na Primeira Guerra – derrotado, o Império Austro-Húngaro foi partido em nações menores: Áustria, Hungria e Tchecoslováquia, entre outras.

Károlyi admitiu não se dar conta da importância da rendição, porque “naquele momento, ‘aquele momento’ ainda não tinha se tornado ‘aquele momento’”. Magris o completa: “No puro presente, a única dimensão em que vivemos, não há história”. O tempo é que diz o que cada gesto imprimiu.

O julgamento do mensalão, conforme o estamos vivendo, é histórico por suas dimensões. É como achar o rapaz mais alto da família: basta medi-lo. Se ele por isso se destina a ser um ótimo jogador  de basquete, é uma outra história, que vai depender de tudo que reside apenas no futuro.

Pelas patentes políticas que alcança e por suas condenações já divulgadas, o julgamento é histórico em si, mas nada garante que ele vá ser o anúncio de um novo Brasil que surge, ou de um novo método para lidar com os políticos corruptos. A festividade pode e deve ser deixada de lado, por ser ingênua e porque subestima a engenhosidade de nossos melhores corruptos, sempre criativos, e a leniência de membros da Justiça. Este país sabe decepcionar.

A ação foi julgada com transparência pelo STF, ao vivo, com amplo direito a defesa e criação de versões. Somou atritos entre ministros, que chegaram a entendimentos a respeito dos indícios, provas e depoimentos – entendimentos que foram esclarecidos em votos didáticos, inclusive sobre a tese do Domínio do Fato. As prisões devem levar a novas quebras de silêncio, e o futuro nos dirá se o julgamento – já democrático – foi também perfeito.

A ideia dum “julgamento político” influenciado tanto pela opinião pública quanto a mídia evapora quando se nota: 1) que o PT já cresceu em número de prefeituras nessa eleição; 2) que recentemente a grande imprensa viu o STF aprovar por unanimidade as cotas em universidades públicas, que a maioria dos editoriais condenava.

Por ora, foi só um julgamento, num país que precisa de tantos – como a História insiste em denunciar há anos. Portanto, sem festas.

*Foto: Nelson Jr. STF

18.10.12

Sobre a Lua que se separou de nós



Cientistas de Harvard sugerem que o satélite foi arrancado da Terra num acidente de sorte





Dois cientistas ligados à Universidade de Harvard apresentaram uma novo modelo a respeito do canto que habitamos no espaço. O material foi publicado na última quarta-feira pela revista “Science”, uma das mais prestigiosas da área e atesta, segundo Sarah Stewart e Matija Cuk, como a Lua se formou a partir de material terrestre.


A astronomia já considerava a hipótese de que o satélite natural teria se formado a partir de uma colisão gigantesca com outro corpo celeste. Essa colisão “arrancou” um pedaço do planeta, que passou a orbitar em torno de nós. 

A partir de um novo modelo, Stewart e Cuk demonstraram como foi possível que Lua e Terra tenham o mesmo "material genético" uma vez que ambas dividem a mesma composição química usada por cientistas para “identificar” grupos semelhantes de planetas e meteoritos. 


E é aí que surge o mais interessante desse magnífico acidente do trânsito galáctico.


O modelo apresentado pelos cientistas indica que a Terra girava em torno de si mesma numa velocidade frenética: na era pré-Lua, um dia duraria não mais do que três horas. Pensando proporcionalmente, uma noite naqueles ensaios de planeta talvez não chegasse nem a 60 minutos – o que considero mais do que suficiente. As noites sem lua, como sabemos, perdem muito em termos de atrativos, além de não sensibilizarem as mulheres da maneira mais inspiradora. 


Por sorte, a imensa colisão que nos arrancou  o embrião da Lua freou a Terra, colaborando para que tivéssemos estas 24 parcas horas, nas quais tentamos conciliar trabalho, lazer e descanso, com mais ou menos sucesso. 


E com a gentileza que acompanha os melhores imprevistos, surge uma bem-vinda Noite: um conceito tão único que é livre de sinônimos e um espaço no tempo que refletiria toda essa escuridão que estávamos condenados a experimentar como espécie. 


Desde o medo infantil ao ambiente propício para sonhos e amores, à luz daquela parte de nós que vela de longe as dúvidas que temos sobre a origem disso tudo.








Não há perguntas incorretas, Serra






A liberdade de expressão é um dos mais belos fundamentos do Ocidente: sustenta que a democracia não se confina ao ato do voto. Permite que se confrontem, a qualquer hora, as opiniões que muitos adorariam que fossem absolutas, seja por discordar delas, seja por não estar convencido delas. Por isso, políticos têm como dever de ofício responder à imprensa, cujo papel é questionar – em todos os sentidos – em nome do interesse público.

Não por acaso foi bem-vinda a Lei de Acesso à Informação, que revelou os escabrosos salários acima dos tetos permitidos. Ela combate desde a má-fé dos governantes à má-vontade dos servidores protegidos pela estabilidade, porque garante que os Poderes sejam questionados.

Assim, não existem perguntas incorretas, e sim respostas mal dadas, negadas ou inconvenientes para quem as dá. Falha com a democracia quem vê numa questão um inimigo.

O candidato José Serra (PSDB), pelo visto, não conseguiu compreender esse fundamento da democracia mesmo após tantas décadas de vida pública. Ou quis abandoná-lo, em nome do que considera ser mais apropriado para o momento. Em suma, não foi democrata.

Ao não responder na rádio CBN à pergunta sobre o kit anti-homofobia do Ministério da Educação de Fernando Haddad (PT) e ainda afirmar conhecer as “preferências políticas” do jornalista Kennedy Alencar, Serra usou a condenável prática do ad hominem – atacou o mensageiro em vez de ater-se à mensagem. Tanto que, diante do apresentador Carlos Tramontina, do SPTV da Globo, o tucano não teve problemas em responder horas depois à mesma pergunta, que já não era mais “petista”.

O kit não é da agenda municipal, mas de Silas Malafaia, líder evangélico que se aliou a Serra, e é lamentável que tanto tempo do debate se tenha perdido com tal questão. Porém, se ela vem à tona, é problema de quem se aliou a Malafaia. Se se tornou de interesse público, é obrigação de Serra responder à sociedade que lhe pergunta na figura do repórter. Se seu governo produziu um kit antipreconceito, ele tem, sim, que esclarecer democraticamente se há semelhanças em relação ao material do adversário – sem escolher a quem responderá.

4.10.12

Vai votar de novo de qualquer jeito?





Convicção é importante. No voto irresponsável, começa o país que odiamos


O leitor já deve ter lido vários artigos – alguns até meus, se é que me coube a honra – que se esforçaram na tentativa de tentar conscientizá-lo a respeito da importância de um voto meditado e bem decidido.

Pode soar como um desejo paternalista, condescendente – quem sou eu para ensinar alguém a votar? – mas a verdade é que somos uma democracia jovem, recheada de jovens eleitores, com máquinas partidárias não muito chegadas a uma ideologia, ou a um plano de governo.

Não quero incentivá-lo a votar em A, B, ou C – e nem poderia, sendo esta uma coluna de circulação nacional sobre eleição municipal.

Quero apenas que o leitor pense quanto custa o seu voto para prefeito e vereador. Porque é verdade que, num país em desenvolvimento, o número na urna pode ser muito barato.

Uma rua já asfaltada é suficiente para vincular seu voto? Ou talvez a recém-inaugurada iluminação do seu bairro? Políticos que já estão no governo querem que você pense assim: que fazendo o mínimo de suas obrigações, você já se sentiria totalmente vinculado a reelegê-lo ou a votar em seus sucessores. Não se permita ser comprado por tão pouco.

Questões de fé são importantes numa eleição – como chamar de outra forma a convicção numa ideologia ou num programa de governo? Mas peço aos eleitores sinceramente religiosos que verifiquem se o programa de mandato de seus vereadores beneficia o mundo real do bairro e da cidade em que vivem. Não é por frequentar a mesma igreja que uma pessoa se torna o melhor nome. Como se sabe, há muitos lobos em pele de cordeiro.

Na dúvida, repense seu voto: você tem de hoje até domingo para saber em quem pretende confiar. Perca algumas horas para fazer uma pesquisa: a internet põe a nu o candidato despreparado. Se ele não consegue ter em seu site oficial um plano detalhado para seu mandato, abandone-o.

O fundamental é ter algum tipo de convicção – até para votar nulo. Mas é preciso também perder essa cultura arraigada de que só os governantes são os culpados, ou de que só eles são os que não fazem nada.

O voto dado irresponsavelmente é o começo do Brasil que odiamos.