26.11.06

As letras de "Cabaret"

Como no post anterior a esta série eu tinha falado que estava me dedicando às letras da minha banda, o CABARET, nada mais lógico do que postá-las aqui, na ordem em que elas se apresentam no álbum.

Pensei em fazer uma edição comentada de cada uma das 12 letras, mas mudei de idéia. O que posso falar delas é que capto todo um conceito perpassando cada uma delas. O estrelato, tanto no palco quanto o protagonismo da própria vida. Gente desejando (e fazendo tudo por) atenção e recebendo desamor.

O palco não pode ser pouco é o caminho do exagero em busca da atenção de quem quer que seja. Quando queremos alguém, de certa forma, estamos atuando: decoramos falas, impostamos a voz, fazemos cenas. Nada garante o sucesso, mas mergulhar no personagem pode arrebatar a "platéia", o alvo da paixão. Acredito nisso, em fazer tudo o que estiver ao alcance -no mínimo, a culpa de um insucesso passa a ser do outro.

Com vocês, as letras de "Cabaret", álbum de estréia do Cabaret
Beijos,
Márvio/Marvel
www.radiocabaret.com.br
1. O palco não pode ser pouco
(Marvel - Peter Glitter, Setembro Edições 2006)

I
Desse jeito tão normal
Esse show não vale R$ 1
Desce logo, pega mal
Ficar alugando o pessoal

O palco não pode ser pouco não pode ser palco não pode ser pouco
O pouco não pode ser palco não pode ser pouco não pode ser palco


II

Seu produto industrial
Sua aposta audiovisual
Sua pose sensual
Não emplaca nem comercial

Meio metro acima do bem e do mal
2. Messias pessoal
(Marvel, Setembro Edições 2006)

I
Chorava sozinha, queria se matar
Trazia uma dor e pedia amor para aliviar
No primeiro que viu ela se jogou
E disse: "Eu te esperei, agora me salvei,
Estranhamente minha vida mudou"

Pode ser que nada disso
Nunca justifique o mal
De fazer do amor um vício
Por milagre na horizontal
E se você fizer de mim
O seu messias pessoal
Vá por sua conta e risco
Não peça perdão nem me julgue no final


II
Mas, numa manhã, algo aconteceu:
Sozinha ela acordou
Sem ninguém pra chamar de seu
Ele vestiu a roupa sem dizer adeus
E então desapareceu, o telefone não deu
Nem rezando ele te atendeu
3. Dama da noite
(João Paulo Cuenca - Marvel - Myself Deluxe, Setembro Edições 2006)

I
Ela está ali, debruçada sobre o bar
Preocupada em manter a pose e esperar
Um drink a mais, um drink a mais
Um drink não é mais do que a noite,
Do que noite toda vai lhe dar

II
Hey, hey, onde está o sucesso que ela fez,
Hey, por que será
Que ninguém liga a mais de um mês
E nada mais, e nada mais, nada mais
A dama da noite hoje não,
Hoje já não é nada de mais

Dentro da fumaça, não se vê néon
Ninguém mais enxerga o brilho
Do seu batom
4. Brilhar
(Marvel - Myself Deluxe - Peter Glitter, Setembro Edições 2006)

I
Preciso juntar certezas
As luzes estão acesas
Agora eu não posso mais errar

Meu corpo incandescente
Cristal de calor constante
A escuridão não pesa em meu olhar

Vou partir, competir com a luz solar
Devastar o planeta em silêncio
Sem te acordar


II
Um vôo inatingível
O sangue por combustível
Eu já estou mais leve que o ar

As cores estão mais densas
Irradiações suspensas
Numa calamidade nuclear

Vou partir, competir com a luz solar
Devastar o planeta em silêncio
Sem te acordar
E no céu, num minuto desintegrar
Sem deixar nem sinal de que um dia
Consegui brilhar


Toda luz vai brilhar, cintilar e morrer
5. Rockstar Baby
(Marvel, Setembro Edições 2006)

I
Meio sem querer, quase sem pensar
Decidiu sair sem falar com ninguém

Ela só levou roupas e CDs
Ninguém entendeu
Até que alguém lembrou
O nome da banda que ela tatuou

Se apaixonou
Por um rockstar baby, you know
Por um rockstar ela deixou
Para trás a vida que foi
Por um rockstar baby, you know
Baby, you know
Por um rockstar ela deixou
Para trás a vida que foi
Por um rockstar...

II
Sempre em camarins, ônibus de tour
Portas de hotel, dormindo pelo chão

Não parece mais ex-segundo grau
Seu sorriso tem uma ironia a mais
De quem tem nas mãos tudo o que já sonhou

O nome da banda que ela tatuou...
6. Não desista de mim
(Marvel, Setembro Edições 2006)

Existe um nome que eu sempre grito
Quando estou perto demais de ficar pior
Existe sempre uma chance que eu peço
Mas que você talvez não possa me dar
Existe sempre um colo onde eu quero chorar
A minha dor manchada de vermelho
Existe sempre no mesmo espelho
Um idiota me esperando passar

Mas não, mesmo assim não desista de mim
Não, não desista de mim

25.11.06

7. O amor e a guerra
(Marvel, Setembro Edições 2006)

I
Faço isso bem
Não tenho por que negar
Se te desejar não me faz nenhum mal
Num certo sorriso,
O meu corpo confessa essa má intenção
Só pra te cantar
E até quando sai do tom, a música fica melhor

E não tem porém que possa negociar
O amor e a guerra que eu vou declarar
Num certo sorriso,
O meu rosto traduz toda essa má-fé
Que só te quer bem
É como se fosse um dom que não pode morrer em vão

Não vai dar pra te abandonar nem te adiar
Se ontem o amor tinha o que dizer
Entrar sem bater, fazer sem doer,
É algo a se aprender
Mas já existe uma sombra no meu lar
Que deixou a marca no edredom
Sem sequer deitar, sem nem abusar...
...e morre de medo de tentar


II

Faço isso bem, não tenho por que negar
Se te desejar não me faz nenhum mal
8. Copacabana full-time
(Marvel - Peter Glitter, Setembro Edições 2006)


I
Quatro horas da manhã
Nem sinal, a noite não pode parar
Os carros que vêm na minha contramão
Dão cinco tiros sem direção

Uma hora, R$ 100
Tão mulher que eu nem pude acreditar
No Leme, no Lido, no Arpoador
Copacabana sabe até falar de amor

II
Vem depois esse silêncio
Como o som de um paraíso infernal
No gozo que vem com um grito de dor
Copacabana sabe até falar de amor
9. Se você confiar
(Marvel - Carlos Gustavo Barros, Setembro Edições 2006)

I
Por que não?!
Ah, deixa disso, baby!
A gente não vai fazer absolutamente
Nada que você não queira

Ah, eles sempre falam...
E você liga pra isso?!
Você gosta assim...?
Você gosta assim?!

Eu posso te dar todo o meu amor
Se você confiar, confiar em mim

II
Tá mais calma?
Arrá, eu não disse?!
Todo mundo faz isso, baby,
Inclusive seus pais

Não vai mudar nada, juro
Eu te deixo em casa depois
Você acaba em mim
Você acaba em mim
10. Lingerie
(Marvel, Setembro Edições 2006)

I
O que eu não quis repetir aconteceu
De novo eu estava ali
Num quarto escuro, seu olhar, sem ter pudor,
Tirava minha lingerie

Faz tempo que eu prometi que nunca mais
Você ia me ver aqui
Mas, como um vício, o inferno volta
E eu não tenho mais como fugir

As suas falas são todas iguais
Comoum filme antigo, um déjà vu fatal
E eu sempre morro no final

Amor, devagar e pouco a pouco
Eu vou me vingar
Amor, devagar e pouco a pouco
Você vai pagar

II
Cada beijo agride e a noite me faz mal
Me faz ter náusea de você
Mas como um vício o inferno volta
E eu não tenho mais o que fazer

Me deixa ir, me deixa escapar
Abre essa prisão, aqui não é meu lar
Aqui inda vou te matar

Não tenho mais nada a dividir
Não tenho mais como implorar
Se for pedir muito a solidão
Se você não vai querer perdão

Não dê as costas para mim...
Não dê as costas para mim!
11. Um cadáver no palco
(Marvel, Setembro Edições 2006)

I
Ninguem escutou, ninguém lhe deu atenção
Até que caiu o microfone em suas mãos

O baque seco de um corpo que ao chão tombou
Fazendo a platéia inteira gritar: "Roquenrou!!"

Sangue no ato, crime barato
Deixe o cadáver no palco
O show só termina quando ele levantar

II
Era um sacrifício, era autoflagelação,
Era um homem condenado à consagração
Finalmente a fama veio a banda não parou
Finamente a multidão estava vendo um show

O show só termina quando ele...

Palmas e vaias, vocês são todos animais (x3)
Palmas e vaias, vocês nos meus funerais

Sangue no ato, crime barato
Deixe o cadáver no palco
O show só termina quando ele levantar
O show só termina depois do bis que ele tocar
O show só termina...

Deixe o cadáver nu
12. Tudo o que aprendi
(Marvel, Setembro Edições 2006)

I

Não adianta amar de qualquer jeito
Eu não quero, não aceito esmola
De mais ninguém.

E vou dar um tempo nessa de insistir
Que você ainda vale a pena, a cena

Vou brindar à minha solidão
Procurar meu chão
Me retocar e mostrar tudo o que aprendi.

II
Um pouco de vinho, à meia-luz de um quarto,
Um retrato vela o ritual
Que vai além

Não é qualquer roupa não que hoje me cai bem
Tem que ser algo especial, cruel,
Tudo o que os outros achem quase desleal
Atração fatal
Vou dar as cartas, vou me vender bem caro
Sem perdoar e mostrar tudo o que aprendi

III
Eu quero pra mim, num gole de champanhe,
Um amor que me sirva a taça
De mais prazer

Um beijo cuspido, um doce meio amargo,
Um afago pra deixar de lado, pensando:

"Se você não vem, vou beber a minha solidão,
Procurar meu chão
Juntar os cacos, deixar para amanhã
E negar cada palavra que eu me prometi...

...ah, se eu pudesse te dar tudo o que eu aprendi".

3.6.06

Faz algum tempo...

...que não consigo blogar conforme me propus, devido ao ritmo de trabalho no jornal e ao empenho que tenho dedicado à minha banda, o Cabaret. No meu caso, poesia demanda tempo, demanda combustão e, acima de tudo, fragilização, que por sua vez, exige tempo para recuperação.

Não creio que tenha perdido a inspiração, ou a mão, para versos. Acredito apenas que ando canalizando esforços para o que considero mais urgente: a música, a letra de rock. Não considero as letras que faço poemas _talvez pelo fato de sentir que elas precisam da música para ficar de pé_, mas vejo nelas, sem dúvida, um exercício de metrificação semelhante ao que me ajudou a fazer poemas rígidos no ritmo.

Sem tempo para a poesia, vou fazer deste espaço um lugar para considerações. Se os poemas vierem, serão bem-vindos, mas não me obrigo mais a eles. A cabeça mudou muito desde o momento em que criei esse blog. Os blogs morreram, viraram flogs, que viraram podcasts... talvez seja a hora desde blog morrer para virar outra coisa.

A partir de agora, será assim. Abraços.