27.2.14

A miopia de quem compara hipóteses




O ator Vinícius Romão foi confundido por uma vítima de roubo – a copeira Dalva Moreira da Costa – e só foi libertado depois que seus amigos denunciaram na internet. 


Muitos viram racismo no tratamento dado ao ator global, que é negro. Muitos indagaram "se o caso aconteceria com um loiro de classe média". Soa forte, mas é miopia.

Combater o racismo pessoal e institucionalmente é uma preocupação obrigatória numa sociedade em que os passados de escravidão e marginalização explicam muita da pobreza dos negros e do maior abuso policial que sofrem. O que acontece, no entanto, é que a denúncia automatizada desse tema sequestra o debate de problemas que talvez sejam mais fáceis de corrigir objetivamente. 

No caso de Romão, a vítima o identificou – de forma errônea. Arrependida, Dalva se retratou na delegacia. Demorou a ir se retratar, porque não tinha o dinheiro da passagem. Livre, Romão não a considerou racista: disse que o engano podia ocorrer a qualquer um.

É verdade. Nos EUA, a Innocence Project, uma ONG dedicada a tirar inocentes de prisões por meio de testes da DNA, concluiu que um em cada três condenados APENAS com base em provas testemunhais foi preso injustamente.  A identificação de criminosos por suas vítimas não é das provas mais eficientes, o que não chega a ser uma novidade nos cursos de direito. 

Pode ter havido racismo? Talvez, mas jamais o provaremos. Quem foi o racista? Dalva? O investigador? Talvez seja melhor apontar as armas para o que é indubitável.

O indubitável é a negligência da investigação, uma falha no método do inquérito, que não foi além da identificação produzida por uma vítima sob estresse e não se preocupou em proteger um inocente. O que me leva a pensar numa outra situação: talvez Vinícius Romão tenha sido salvo de sua prisão por causa da sombra de racismo que surgiu – o que lhe daria vantagem sobre um branco pobre, caso houvesse um na mesma situação que ele. Mais abaixo você terá exemplos.

O erro é fazer competição de hipóteses, comparações em busca de episódios que sustentem teses, sem admitir que a polícia age burramente de diversas maneiras. A realidade nos dá mil subsídios para acreditar que a polícia é despreparada, mal equipada e negligente, reagindo apenas ao fogo da opinião pública.

Uma rápida pesquisa no Google mostra que tanto negros quanto brancos são vítimas dessas prisões por engano. Se formos usar o critério salarial que o Governo Federal aplica para definir quem é de classe média, aí é que os governistas não poderão reclamar da falta de brancos equivocadamente presos. 

Os negros sofrem mais abusos nas mãos da polícia? Inegável. Mas dizer que ser branco é “garantia” de escapar de um erro desses é ver um lado só e afirmar que o sistema policial tem total controle sobre suas negligências. Está longe de ser assim.

Toda solidariedade ao Vinícius Romão e a qualquer um que tenha sido acusado de algo que não cometeu. 

Exemplos de brancos em casos de prisões equivocadas.