7.3.13

A lição que Chávez ensina de graça



"Esquerda, volver."

Não existe no mundo um conceito tão mutante quando o de democracia, devido às várias interpretações, leituras e saídas na prática que se notam de país a país e de partido a partido. O que nunca muda é a conclusão de que o ritmo do regime democrático é lento, e isso levou muitos governos a usarem práticas antidemocráticas – alguns com ideais até democráticos.

Lincoln comprou votos para acabar com a escravidão nos EUA, acusação que recai sobre FHC quando da emenda da reeleição. Ninguém em sã consciência reinstalaria a escravidão, assim como é difícil discordar que quatro anos são pouco para implementar um projeto. Lula, por exemplo, não abriu mão de usar a emenda.

Governos adoram criar formas de burlar a democracia; afinal, perde-se muito tempo quando todos podem opinar. Assim, poucos países podem ostentar democracias indiscutíveis. Em 2012, a Europa conheceu a expressão “déficit democrático”: por medo de que a ajuda anticrise não viesse, Grécia, Itália e Espanha tiveram de eleger políticos de austeridade condicionada à União Europeia e ao FMI.

Às vezes o povo se incomoda com esse déficit e protesta. Às vezes, não dá a mínima e topa trocar ideais de democracia por satisfação de prioridades. Isto é a Venezuela de Chávez, que mudou a Constituição e centralizou o poder, limitando a mídia e aparelhando o Judiciário. O povo apoiou tais mudanças reelegendo-o três vezes, convencido de que a democracia de outrora não lhes beneficiava como o chavismo.

Gente miserável foi incluída na distribuição de riqueza e no bem-estar social – justamente as metas de qualquer democracia. A maioria da população não lamentou as restrições à mídia e ao Judiciário independente – pilares que consolidam as democracias – porque se convenceram de que eles eram álibis que só favoreciam os ricos que Chávez oprimiu sem cenas clássicas de violência. Uma programação de TV livre das cadeias nacionais prolixas de Chávez não serviu para lhes garantir bem-estar.

A Venezuela ensina que vias democráticas podem legitimar soluções antidemocráticas: o voto no Chavismo nunca foi menos legítimo que os da extrema direita na Europa, ou os do deputado-pastor Marco Feliciano (PSC-SP). Quando a democracia falha em distribuir bem-estar e justiça, seus pilares se corroem como os dogmas de uma religião abandonável, e o eleitorado não tem problemas em testar outra coisa.

Por isso, não basta importar teorias e visões estrangeiras do que seria um ideal de democracia perfeita. É o povo, estúpido.