11.4.13

Resista à tentação de amar Feliciano




O truco do deputado pastor Marco Feliciano – que afirmou só deixar a Presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara caso José Genoino e João Paulo Cunha  deixem a de Constituição e Justiça – é um marco simbólico do projeto político dos evangélicos.

De uma só vez, Feliciano atraiu para si não apenas os holofotes como a simpatia de setores laicos conservadores, que, embora não concordem com sua vaga na CDH, priorizam a queda dos petistas condenados. Muita gente achou sua fala elogiável, quando na verdade ela apenas usa um absurdo ético para justificar seu próprio absurdo ético; e ainda, pegando carona como “justiceiro” no maior julgamento recente de políticos do país, que ainda ecoa no STF. Isso é miopia.

Institucionalmente, nada impede que Feliciano presida a CDH. Pelo mesmo viés, Genoino e João Paulo puderam, enquanto deputados empossados, assumir suas vagas na CCJ, bem como Blairo Maggi, o “motosserra de ouro”, na de Meio Ambiente. Quem poderia impedi-los era a ação dos "decentes", que, pelo visto, já estão imobilizados pelas alianças para 2014.

Os líderes evangélicos querem influência, sim. Engana-se quem pensa que lhes satisfazem 77 cadeiras no Congresso e o nanico Ministério da Pesca. Desde 2002, a cada eleição, o número de evangélicos somados no Senado e na Câmara aumenta cerca de 30% do total anterior. Se mantiverem essa taxa, chegarão em 2014 a 100 cadeiras, quase 20% dos 513 assentos do Parlamento: um retrato fiel da fração da população apontada pelo censo 2010.

Não basta para eleger um presidente, mas se torna instrumento de coalizão. Não que pentecostais formem bloco hiperunido – Feliciano enfrenta oposição de “irmãos” por suas declarações virulentas, mas, com um pouco mais de cérebro, um evangélico pode chegar a um ministério mais estratégico. Por exemplo, em Israel, o partido-acessório Shas, de orientação ultraortodoxa, acostumou-se por décadas à pasta da Educação, conforme explora o livro "Terra em Transe: democracia ou teocracia", de Guila Flint e Bila Grin Sorj (ed. Civilização Brasileira, 2000).

Em tempo: moralmente, Feliciano se igualou  à mulher do relato bíblico de 1º Reis 3:16-28, que perde o bebê e rouba o filho da colega. Para resolver, o rei-juiz Salomão propõe parti-lo com uma espada: a ladra aceita, afinal, para ela pouco importava o bem maior – a vida do bebê – desde que sua derrota tivesse companhia.

6 comentários:

jenilson rosa disse...

Que tal citarmos e vivermos a Palavra de Deus em todos os momentos!?

Anônimo disse...

Ótimo texto. Expressou muito do que eu penso sobre esse indivíduo.

A ideia do jenilson rosa é uma boa dica, com certeza!

Anônimo disse...

Ótimo texto. Expressou muito do que eu penso sobre esse indivíduo.

A ideia do jenilson rosa é uma boa dica, com certeza!

beocio disse...

Esse sr. Feliciano é muito esperto como todo politico, êle não tá nem ai pra gay, lésbica, menor abandonado, idoso o que ele queria conseguiu. Vai ser re-eleito em 2014/18/22...porque os fanáticos que o seguem vão fazer isso. Quanto mais a midia falar dele isso é o que importa pra êle.

Anônimo disse...

Caramba. Você não percebe o teor do que acabou de escrever? "Os evangélicos", cáspite.

Se, como você reconheceu, eles são 20% da população, não é legítimo que tenham 20% da casa legislativa? Que tenham um ministério mais do que nanico?

Às vezes eu acho que a turma do Aufklärung não pegou bem o espírito da democracia.

Anônimo disse...

Que medo dos evangélicos terem representatividade hein?! Brasileiro odeia o conceito de estado laico, os que não querem que seja religioso querem que seja secular anti-cristão sem representatividade dos religiosos, um conceito tão pueril quanto possível.

O sujeito não tem "absurdos éticos" tinha nessa época um bando de macacos esquerdistas (e outros tipos humanistas) gritando contra ele e ampliando tudo que ele dizia.

Equiparar como "absurdo ético" o que havia contra ele e contra os membros da CCJ é só brincar com a linguagem. A jogada dele foi a correta, foi acuado por militantes (a maravilhosa nova forma de fazer política, tão elogiada pela imprensa: através de militantes profissionais, quem precisa das vias legais?) e colocou à disposição o seu cargo (que é bem pouco relevante politicamente) em troca da saída de criminosos condenados da CCJ, cobrou muito barato, se ele incomodava tanto que aceitassem a negociação. Mas a esquerda governista não consegue abrir mão nem de um pouquinho de poder, não é? tsc tsc...