24.1.13

"Amor", velhice e os dependeres





Posso me orgulhar de estar com os trabalhos adiantados em relação aos indicados ao Oscar. Resolvo “Lincoln” neste fim de semana, já passei por “Argo”, de Ben Affleck, “Django Livre”, a comédia faroeste de Quentin Tarantino, o chileno “No”, de Pablo Larraín e o belíssimo “As Aventuras de Pi”, de Ang Lee, que inaugura o gênero 3D-com-história.

Mas talvez não haja filme mais dolorido e recomendável que “Amor”, do austríaco Michael Haneke, favorito ao prêmio de filme estrangeiro e ainda indicado a melhor filme. O mote é simples: um casal de idosos franceses sofre uma mudança de rotina quando Anne (Emmanuele Riva) tem um acidente vascular cerebral. A partir daí, seu marido (Jean-Louis Trintignant)   se desdobra no cuidado dela , que não quer ser internada, asilada e nem mesmo visitada devido ao seu estado – o que cria impasses entre o casal e a filha (Isabelle Huppert).

“Amor” é um filme que disseca seu título de forma econômica. É doce e desolador quando cria a empatia da plateia com os atores, porque ali vemos que até o melhor dos cenários que o amor romântico nos propunha – “felizes para sempre” – não cessa de encontrar desafios.

A doença obriga Anne a entregar seu orgulho às mãos do marido, que o defende com lealdade. E as limitações físicas de ambos vão delineando os limites deles como casal, transformando os dois em satélites que percorrem uma órbita estreita em torno da doença, que se torna cada vez mais onipresente.

E diante disso tudo, no espectador surge uma angústia profunda da nossa era de prevenções contra tudo: a situação exposta é daquelas inevitáveis; resta-nos apenas sonhar – ou rezar, a depender da crença – que a velhice não seja um fardo para nós ou para os outros, como se isto fosse possível sem uma morte precoce.

Com discrição nas intenções, o filme nos conduz à nossa natural solidão, apartados do mundo, cada um na sala assistindo a duas possibilidades de si mesmo – e talvez essas reflexões façam o espectador até esquecer-se do filme enquanto ele é projetado na tela. Simples como seu título, o longa de Haneke convida-nos a contemplar a hipótese de um dia depender de alguém – ou da saúde desse alguém.

2 comentários:

Maria Fernandes disse...

Vivo hoje aos 58 anos a dependência temporária, uma verdadeira antítese de tudo que imaginei pra minha idade 58 anos. Sofro de uma degeneração na coluna que agora não vem ao caso explicar. Vale dizer que, sigo com razoavel autonomia e trato-me para mantê-la na medida do possível. Sei que passarei por uma fase ainda mais dura advinda de três operação severas, que me exigem só de pensar muita coragem e fé, posto que é a minha grande chance de uma melhora considerável. Tenho filhos, marido, pai e amigos que de alguma maneira ajudam contribuindo cada um à sua maneira. Certo dia conversando com o meu pai, homem lúcido aos 86 anos, sobre a solidão ouvi o seguinte: " Estar com alguém no mundo atual, quando tudo está bem é preciso prazer, agora quando este alguém fica de alguma maneira dependente, aí minha filha é preciso um amor enorrrrme, pra aguentar o espelho que o sofrimento do outro reflete" Então virou o rosto e olhou pro céu azul lindo real, porém inalcançável...

Leandro disse...

Verei hoje a noite. Ontem assisti Django e também já vi Argo e As Aventuras de Pi. Lincoln será resolvido amanhã. Todos muito bons, confesso. Mas até agora fico com Django, que é forte, cômico e bastante artístico. Levarei a crítica em consideração enquanto estiver assistindo.

Abs.