12.7.12

O dinheiro dos outros e a sua mãe




Rejaniel Santos, 36, e a companheira Sandra Domingues, diante da surpresa de um país 

Dois moradores de rua encontram R$ 20 mil (cerca de € 8 mil) numa rua de São Paulo. O dinheiro era de um assalto a um restaurante e fora arremessado pelos ladrões em fuga para ser recuperado depois. Sem saber a quem pertencia, o casal de catadores de lixo faz o incrível: entrega a soma à polícia.

A justificativa é tão inimaginável quanto acessível: “Parei para pensar no que minha mãe me falou: nunca roubar nada que é dos outros”, afirmou Rejaniel Santos, 36, companheiro de Sandra Domingues, mesma idade. Cada um deles ganha, em média, R$ 100 por mês. Acionados, os sócios do restaurante ofereceram aos “heróis” uma refeição e emprego no próprio estabelecimento.

“Renasce a esperança na humanidade!” é o comentário mais recorrente a respeito do “milagre da honestidade” dos miseráveis.  É curioso que quem comenta se coloque sempre fora da “humanidade”. Ao meu lado, ninguém admite que voltou a crer em si mesmo – no que faria em situação semelhante.

No fundo, não é bem o sem-teto que nos surpreende, mas nossa própria certeza de que faríamos diferente. “Não seria errado manter o dinheiro encontrado, ainda mais sendo pobre”, ressaltam alguns; bem observado, mas não seria o mais certo. E para fazer o mais certo, é preciso acreditar só nessas lições de mãe.

Ouso fazer a mesma comparação que o editor do Destak DF, Raphael Bruno, fez ontem com outro assunto, extraído de matéria de Carolina Ferreira neste diário: o deputado Antonio Reguffe (PDT-DF) gastou em 18 meses de mandato surpreendentes R$ 13 mil das verbas reservadas ao seu gabinete. Sua colega de Congresso Erica Kokay (PT-DF) torrou no mesmo período R$ 396 mil – o equivalente a 30 Reguffes– e está mais próxima da média per capita da Câmara que o colega. A comparação entre os dois é honesta: ambos residem no DF.

“Ninguém cometeu crime, Reguffe é quem economizou demais”, dirão alguns, “e isso acaba por embaraçar a outros”. De fato, mas será que não cabe a um deputado legislar ao custo mais baixo possível?

Concordo com Raphael Bruno: só a economia de verbas não bastam a um mandato, há outras questões envolvidas. Mas já diz muito sobre o que se faz com o dinheiro dos outros, à revelia dos conselhos de mãe.

Um comentário:

.Marcelly disse...

Como pode o dever virar um ato de heroísmo, como no caso dos moradores de rua? Como pode uma obrigação,a saber, economizar o dinheiro alheio, se considerado um favor feito à sociedade?

E o meu asco pela sociedade só aumenta...