22.9.01

Baixa as armas

Baixa as armas. Estou inofensivo.
Trago a bandeira branca sobre o corpo,
Uma flor despetalada,
E mil maneiras de pedir desculpas.

Tenho ainda uma face de derrota
Pra ser estapeada em praça pública.
Se a minha rendição nao for aceita,
Ainda posso garantir a tua diversão.

Apenas baixa as armas, que não é hora
Nem preciso gastar em mim mais munição,
Que neste estado, o estado em que me encontro,
Não és sequer capaz de me fazer um mal.

23/08/2001
Elegia ao Rafael dos Anjos

"Que ninguém doma um coração de poeta"
Augusto dos Anjos
"Eu tenho a alma do poeta"
Rafael dos Anjos


Três da manhã. Domingo de um agosto.
Com a serenidade costumeira,
Meu avô dava a olhada derradeira
No mundo que deixava, a contragosto.

Arlinda, a esposa, ao lado honrava o posto
Afagando-o, sentada na cadeira.
O triste adeus velou uma enfermeira,
Por trás da mão que lhe cobria o rosto.

Para explicar de formas convincentes
O que é pra mim tudo o que leste acima
Não terei, leitor, versos suficientes.

Mas foi como o desfecho da obra-prima
De quem mostrou a amigos e parentes
Alma de poeta sem ter uma rima.


Estou à espera de uma grande tristeza

Estou à espera de uma grande tristeza
Porque ando só e me sinto bem com isso,
Porque não tenho motivos pra estar triste
E isso já vem desde longa data.

Quando eu leio as notícias,
Ou vejo as pessoas levando os traumas para passear,
Percebo que me falta uma tragédia,
Da qual os outros possam sentir pena.
Algo que eu use pra justificar
Metade das minhas inconseqüências.

Estou à espera de uma grande tristeza
Que arranque a máscara de todo o meu cinismo
E me faça ter certeza de que fui muito feliz.

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