18.5.12

E a Comissão da Verdade nas CPIs?


Já me adianto em dizer que sou a favor da Comissão da Verdade, desde que seja tão ampla, geral e irrestrita quanto foi a Anistia. O Brasil tem o direito de conhecer sua história em todas as nuanças necessárias, sobretudo quando houve esforço estatal no sentido de varrê-las para debaixo do tapete do tempo.

É uma dívida que o Brasil tem com a sociedade: preencher esse vácuo com os fatos, sem interpretações partidarizadas nem lendas que se tornam verdades. Há famílias que ainda convivem com dores da ditadura, seja pelo que foi feito pelo Estado militar, seja pela luta armada. A Verdade, com letra maiúscula, contempla os dois lados. É decoroso que se investiguem ambos, com o mesmo senso de missão.

Seria bonito, porém, que as CPIs fossem imbuídas deste mesmo espírito republicano. A que investiga os tentáculos de Carlinhos Cachoeira, pelo que se vê, é a costura de um imenso tapetão, para baixo do qual os amigos e aliados serão varridos com segurança. Ao decidir anteontem pela não convocação dos governadores citados nas gravações da Polícia Federal para depor a respeito das conexões que o contraventor Cachoeira tinha com suas administrações, a CPI decide se tornar uma peça de péssimo teatro que se arrastará até que todos os prazos se esgotem.

Marconi Perillo (PSDB-GO) tem que dar óbvios esclarecimentos de sua conexão direta com Cachoeira. Agnelo Queiroz (PT-DF), que se dispôs a mostrar o “exemplo de bom contrato” que seu governo tem com a Delta, deveria explicar porque os operadores de Cachoeira tinham tanto trânsito nas secretarias do DF. E Sérgio Cabral (PMDB-RJ) tem que dar esclarecimentos a respeito de sua relação íntima e festeira com o ex-dono da empreiteira, Fernando Cavendish, que opera negócios bilionários no território fluminense.

São pontos indispensáveis para que se conheçam a verdade e a extensão de um esquema de incrível força corrompedora. Mas os pilotos da CPI estão todos com muita calma – uma calma que não se via quando o PT organizava as CPIs quando era de oposição.

É como se, havendo a Comissão da Verdade, a CPI de Cachoeira não quisesse entrar na seara da concorrente, grosso modo. Nela, não deveremos esperar verdades, revelações, ou construir a memória. A CPI de Cachoeira nem entra para a história: ela almeja o esquecimento.

Um comentário:

Maria Fernandes disse...

A dura verdade dos interesses corrompedores dos "homens do Governo e seus associados" não precisou nem de muitas palavras pra ser explicada nesse excelente texto. Agora, espero que fazer a nossa sociedade composta também, de pequenos e viciados corrompedores, acorde pra realidade. Pensar somente em suas aparentemente inócuas urgências, favorece a esses que faturam
milhôes com essas enormes vergonhas nacionais. Creio que pra isso é fundamental Educação de Qualidade. Formar um cidadão, é possível; Vamos precisar de muita fé, esperança, pensamentos palavras e obras.