12.4.12

UM CRISTIANISMO PELA IMPOSIÇÃO?

O presidente da Frente Parlamentar Evangélica, deputado João Campos (PSDB-GO), disse que proporá emenda constitucional para incluir as palavras “desde a concepção” no artigo que define o direito à vida como inviolável.

É outra cartada do bloco religioso do Congresso a fim de bloquear brechas para o aborto, logo após decisão do Supremo que legaliza a prática para bebês anencéfalos.

A frente tem legitimidade política. Representa os interesses dos evangélicos, que são 20,2% dos brasileiros. Como explicou o editor do Destak DF, Raphael Bruno, em seu artigo de ontem, há espaço na democracia para a religiosidade nos debates sobre leis e julgamentos – tanto quanto há para qualquer outra opinião.

Mas não vejo cristianismo quando deputados tentam impor leis divinas a gente de outros ou nenhum credo, em batalhas que seu Deus diz que não lhes pertencem em seu livro sagrado.

Na Bíblia, o Deus judaico-cristão deixa bem claro que apenas Ele atua nas lutas em que sua vontade deve prevalecer. Como na batalha descrita no 2º Livro das Crônicas, capítulo 20, em que o espírito do Senhor avisa aos israelitas: “Assim diz Javé: Não tenhais medo e não vos acovardeis por causa desta grande multidão. Esta guerra não é vossa, mas de Deus.” Quando os fiéis chegam ao campo de batalha, veem seus inimigos já caídos no chão.

Se este Testamento for muito Velho, o próprio messias dispensou combates em prol de sua lei. “Respondeu Jesus: ‘O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui’.” (Evangelho de João 18:36)

A mensagem do cristianismo é de incrível beleza e elegância – quando não infectada por aspirações humanas. Religiosos ou não, deputados e senadores querem ser reeleitos, e para isso seduzem cristãos. Numa só tacada, lembram tanto os vendilhões do Templo quanto a reprimenda lançada a Pedro, quando cortou a orelha do soldado que ia prender Jesus.

Logo, fica-me claro que ares de “cruzada” em discussões legislativas são dispensáveis quando se crê em Justiça Divina ou Reino dos Céus. Pense bem, cristão, antes de lutar. Ou votar.

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