Márvio dos Anjos? Editor e colunista das sextas do jornal Destak, colunista Infiltrado do blog Maria Filó (www.mariafilo.com.br/blog), vocalista do CABARET (www.myspace.com/radiocabaret), poeta.
26.4.12
COTAS RACIAIS PARA TODO O SEMPRE
[Destak]
Há bons argumentos pelas cotas raciais em universidades. 1) A reparação histórica por uma abolição que não integrou os negros desde o início; 2) A má qualidade do ensino público nos níveis básico e médio, aos quais afluem as famílias brasileiras de baixa renda. 3) A necessidade de diminuir uma percepção social de que o negro está sempre nas posições inferiores. 4) A criação de uma elite que equilibraria a balança de tons.
Todas as razões citadas são nobres, mas nenhuma delas jamais me convenceu de que o sistema de cotas seria uma solução democrática – que dirá usando raça como critério. E meu maior argumento é: sua instalação não veio acompanhada de um investimento na melhoria do sistema público de educação. Sem isso, a expectativa de revisão do sistema de cotas no futuro fica totalmente comprometida.
Mesmo os mais esclarecidos defensores do sistema de cotas entendem que ele tem distorções: 1) a do princípio da igualdade entre os cidadãos de uma democracia e; 2) a da quebra na ideia republicana de meritocracia. Mas, depois de alguns anos de sucesso com a experiência, dizem, haverá a reavaliação e o possível retorno para a igualdade nas seleções. Em suma: as cotas já previam o fim das cotas.
Mas não haverá fim sem salto na qualidade do ensino público básico e médio. Estamos no 18º ano do real, e a “geração da moeda” que estudou nas escolas públicas só ganhou... um sistema de cotas, do qual vai usufruir agora, quando chega à maioridade eleitoral – para os que se enquadrarem nos critérios.
Já se perguntou por que não há esforço em implantar cotas raciais nos colégios de aplicação ligados às universidades públicas que já as oferecem? Porque não interessa na caça eleitoral. Seus beneficiados estão longe de votar, e seus pais estão preocupados com outros temas: no fim, é a grife universitária que “corrigirá” o que a escola errou.
Ou seja, as cotas criaram um nicho de votos para os defensores desse sistema – que é usado também em concursos públicos do Estado do Rio e pode ser “estendido” a outras áreas– , e que ninguém mexerá porque sempre haverá eleitores “clientes” desses atalhos. Não porque queiram, mas por ser a melhor saída oferecida. E outra distorção na democracia se eterniza.
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