O DIA DO ORGULHO DE LAVAR UMA ROUPA
Agora vai. São Paulo, motor e radar desta Nação, locomotiva do progresso e dotada de uma Câmara de Vereadores antenada, São Paulo aprovou a criação do fabuloso Dia Paulistano do Orgulho Heterossexual.
Acredito que cada paulistano, vivo ou morto, deve agradecer à sua divindade preferida por este momento. Tem-se ali, naquela metrópole, vereadores que lutam com afinco por uma sociedade mais justa, humana e igualitária.
Orgulha-me cada vez mais que este país hiperdesenvolvido, este mastodonte tropical, esta verdadeira Suécia em português, tenha resolvido seus principais problemas estruturais, sua desigualdade social e o analfabetismo regado a água e farinha. Finalmente podemos dedicar nossas preciosas legislaturas a estes debates inteligentes, gerados por figuras de proa, como o vereador Carlos Apolinário, luz e glória da andante cavalaria do DEM. Seus eleitores regozijam-se totalmente representados, imagino, esperando só que o prefeito Kassab sancione.
O coração paulistano já pode se ufanar de contar com os melhores restaurantes, os engarrafamentos mais duradouros, o ar mais poluído e o terceiro domingo de dezembro, que será reservado ao orgulho de ser um homem que gosta de mulher e vice-versa. Nada mais falta.
O emocionante é que São Paulo fica apta para outros debates igualmente importantes e onipresentes, como o beijo gay em novela das oito – essa conquista sociocultural que ainda nos falta, maior que o Oscar, maior que o Nobel.
Sobretudo, São Paulo poderá tratar da questão que realmente me comove no Brasil: a gritante falta de roupa para lavar nos Legislativos.
No país com que sonho, todo parlamentar teria uma trouxa de roupa para lavar, enviada por eleitores. Gosto da ideia de que seja semanal. Ao receber a roupa suja, o político conversaria com sua base eleitoral sobre os projetos que encaminhou ou pretende encaminhar ao plenário. Semana após semana, com as roupas de molho no tanque, o eleitor acompanharia o mandato do homem que elegeu como representante e poderia lhe dizer como sua vida melhorou com a ação do legislador.
Em tempo: não conheço um único hétero paulistano orgulhoso do dia criado por Dom Apolinário. Mas aguardo ansioso as fotos da passeata do terceiro domingo de dezembro.
Um comentário:
tinha perdido essa notícia à época, acabo de saber. e preciso dizer que esse texto acabou com minha vida de leitora de jornal: como, agora, encarar a pirâmide invertida sem fenecer de enfado?
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