A ÁRVORE DA VIDA E ALGUNS FRUTOS
Malick fala para um mundo que se acostumou a confrontar o que, de fato, é complementar
Novo filme de Terrence Malick e vencedor da Palma de Ouro em Cannes, “A Árvore da Vida” é uma obra imensa, que testa cada uma das mais fundas convicções.
Acompanha-se a formação da consciência de um menino (Hunter McCracken, prestes a fazer história) numa família dos anos 50. Ele é criado entre um pai severo (Brad Pitt), que por amor lhe impõe a lei natural do mais forte, e por uma mãe (Jessica Chastain), que por amor lhe ensina bondades e belezas de fundo religioso. Essas duas forças – natureza e graça – são igualmente golpeadas, sem distinção, pela morte precoce de um dos seus irmãos.
Enquanto uma personalidade se cria, Malick recorda outras questões, a consciência humana sobre o universo e seu papel nele, até o momento em que ambas as evoluções – a do menino e a do planeta – se confundem numa só. O menino se tornará Sean Penn, num mundo corporativo, instalado em arquiteturas arrojadas, e a sensação que se tem é que a evolução não nos tirou do caos. Sai-se do Big Bang para chegar à depressão – e ainda vive-se o peso de ser a espécie condenada a indagar se Deus é o criador ou se é só uma alegoria gasta, que a ciência ainda há de negar por completo.
Ao justapor o criacionismo do Livro de Jó (38:4,7) a imagens darwinistas, Malick vê o curso da evolução do Universo prosseguir no interior do homem. O menino é a evolução de sua família; é quem deve equacionar as lições impostas e pavimentar seu futuro. A evolução da humanidade depende dessas decisões pessoais, surgidas do confronto entre a natureza, que nos quer animais, e a graça, que nos inspira a ser bons. Um combate desigual, mas inesgotável, cheio de belas perguntas.
Como é artista, Malick não oferece uma resposta categórica; sua visão ambiciosa é um sumário das belezas sacras (na música que seleciona e nas imagens de epifanias e redenções) e das científicas (exatas, biológicas e até humanas) e fala para um mundo que se acostumou a confrontar o que, de fato, é complementar.
Sob o denominador comum de Malick, a ciência objetiva explicar os “métodos de Deus”, enquanto a espiritualidade oferece paz e paciência diante do ainda não esclarecido e incentiva a minimizar as injustiças naturais. Juntas, contribuem para o mesmo fim utópico: decifrar a nós mesmos, o como e os porquês.
2 comentários:
Opa! Fiquei a fim de ver. Ótimo texto.
no início ao fim da criação.
j
Postar um comentário