14.7.11

A lenda do cavalo da Troia tropical


Houve certa vez uma Troia tropical. Um país em desenvolvimento, historicamente marginal, vitimado por uma baixa estima incongruente com sua grandeza territorial e que tinha por principal orgulho... a sua cavalaria. Um dia, em seu litoral, foi deixado um gigantesco cavalo de madeira, que maravilhou a população. 


No casco da estátua, lia-se: “Garantia até julho de 2014, sob condições específicas”.

Ciente da clamorosa aprovação do povo, o rei bancou o presente, argumentando que “o cavalo é a paixão nacional”, que Troia merecia ter aquele orgulho e que o monumento geraria empregos e melhoraria muito o país em termos de estrutura. Até os aeroportos seriam ampliados para suportar o transporte do enorme animal. Estábulos em todo o país seriam reformados e novas estrebarias erguidas, e haveria investimento estrangeiro em inúmeras áreas. Troia estaria no centro das atenções do mundo.

Algumas sacerdotisas profetizaram, porém, que o cavalo talvez fosse um “presente de grego”. Já havia acontecido na África, onde a passagem de um equino semelhante em 2010 deixou vários elefantes brancos de vergonha, num rastro de gastos excessivos.

Em Troia, a obra de um estábulo histórico perto de um rio foi orçada em R$ 1 bilhão. Já na primeira cidade que receberia o cavalo, erguer-se-ia às pressas uma estrebaria privada que era sonho do rei. Foi presenteada com isenção de impostos, o que gerou chiadeira da oposição.

O rei não deu bola. “Deixa essas Cassandras, elas sempre falam”. Aceitou as condições dos exigentes tratadores do bicho e, anos depois, deixou a rainha para tocar as obras, que já andavam atrasadas como nunca antes. Fora outros problemas: cortes no Orçamento, concessões de ministérios aqui e ali para partidos que garantiam a governabilidade no Parlamento. Também a inflação batia as portas e o custo de vida aumentava. Morar em Troia tinha ficado bem mais caro, em parte devido ao que alguns analistas batizaram de “custo hípico”.

E nos campos de Troia, conviviam tanto a esperança de que a Cavalaria fizesse bom papel na festa quanto o temor de que, de dentro do cavalo, saísse um furioso Exército de contas. Que jamais se pagariam sem sangria pública.