31.8.10

MACHISMO PARA INICIANTES


Fui acusado de machismo. É até engraçado; a denúncia soa anacrônica como soaria a você, leitora, se de repente alguém, em tom difamatório, apontasse o dedo para você e lhe dissesse: "Eu sei que você não é mais virgem!". É daqueles crimes que dão vontade de confessar na hora, simplesmente porque foram bem arquitetados, bem executados e não deixam nenhum rastro de culpa. A impunidade é terrível nessas horas: é como se não concedessem o reconhecimento devido.

A "condenação"  veio, é verdade, por uma besteira: algumas pessoas leram o meu último texto na Maria Filó e me consideraram "repetidor de preconceitos em relação à mulher". Apenas descrevi como um homem decodifica imagens que se cristalizaram no mundo da Playboy. E sinceramente, pouco me importa se Larissa Riquelme será uma mãe exemplar e uma avó dedicada, ou se essa na verdade é Cleo Pires, ou se tanto faz, ou se N.R.A. Eu falava do que elas me permitiram fantasiar naquele contexto de coelhinhas de celuloide a que elas voluntariamente se submeteram com cachê razoável; o resto vai por conta do humor de quem lê.

Ok, eu sou um tipo de machista, sim. Mas agora vamos definir os limites desse machismo civilizado, democrático e pluralista que eu advogo, antes que vocês me enquadrem num fantasma de décadas e séculos que não vivi, demonizado por bibliografias feministas das quais muitas de vocês nem passaram perto. O curioso é que creio que jamais conseguirei ser tão machista quanto uma mulher consegue ser.

Sou um conservador utópico, porque não se acredita no amor sem um quê de conservadorismo e outro de utopia; afinal, não se trata da ideia mais nova do mundo, nem da meta mais palpável. O amor pressupõe uma questão de pertinência (que se deriva do verbo "pertencer"). Mas pertencer a longo prazo está datado, diante da videolocadora humana que se instalou após as conquistas de liberdades sexuais para ambos os sexos.

(Se eu sou contra isso tudo? Não, afinal de contas, é necessário entretenimento de vez em quando. E um traço do conservadorismo utópico é, vez por outra, admitir que toda essa busca é utópica demais e partir às 2h da manhã para o pragmatismo lúdico, diante de alguém razoavelmente irresistível. E lembre-se: sempre são 2h da manhã em algum lugar do mundo. Você foi avisada.)

Sou também partidário de um machismo que é resposta ao feminismo, porque não somos culpados de tudo. O machismo que advogo entende que a mulher dirija, vote e tome a iniciativa da conquista, mas que se mantenham substancialmente diferentes. O objetivo-chave desse machismo descendente do cavalheirismo é lembrar às mulheres como é gostoso ser diferente de nós, no maior número possível de significados dessa diferença.

E nós trataremos vocês, sim, como seres mais frágeis, não porque vocês são menos capazes, mas para que vocês exerçam o sagrado direito de serem mais frágeis do que nós. Porque vocês têm, além das guerras que aprenderam conosco, uma outra que nós não temos, que exige mais força do que qualquer outra que jamais enfrentamos: a da conquista da beleza, como arma pelo amor, como definição da feminilidade, como estandarte do sonho que a menina em cada uma de vocês nunca abandona: o de encantar. Não adianta, vocês se formam, criam independência, emancipam-se, mas adoram ser lembradas de que são, também, um rostinho bonito.

E damos essa colher de chá pelo simples fato de que gostamos de nos encantar. Sim, não fazemos nada que não seja do interesse da classe. Lamento informar de novo, mas nem eu sou, nem meus bróderes são, o seu amigo gay.

2 comentários:

Samyra Torquilho disse...

casa comigo?!

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