
Todos os anos, o IBPT (Instituto Brasileiro do Planejamento Tributário) estabelece a data simbólica em que o brasileiro “para” de pagar impostos e passa a aproveitar realmente os seus ganhos no ano. Em 2013, o dia é neste 1º de junho – e a cada ano chega mais tarde.
Mas soa a um raciocínio simbólico, o cálculo de um índice médio, que não chegaria a ser tão doloroso: no fim, vivemos os cinco meses integralmente pagando nossos impostos em pílulas e nossas vidas não parecem tão afetadas por eles. Seria o exagero habitual, mas talvez indolor. E assim prosseguimos.
Essa aparente tranquilidade, no entanto, deve acabar no dia 10 de junho, quando entra em vigor a lei que obriga toda nota fiscal a detalhar quanto do valor pago vai para os cofres estatais.
Sim, a cada compra que você fizer, a cada serviço contratado (sejam roupas, cortes de cabelo, manicures ou aquela passada no posto de gasolina) você vai saber quanto custa o produto e quanto custa o imposto – e talvez se lembre de que raramente esses impostos retornam como compensações para o bem-estar da população.
Dos 30 países com maiores cargas tributárias do mundo, o Brasil tem o 12º percentual de impostos sobre o PIB, mas é o que oferece a pior contrapartida, segundo estudo do IBPT divulgado neste ano com dados de desenvolvimento humano da OCDE (Organização Para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e da ONU.
Assim, o que antes parecia ser uma chiadeira de empresários e de uma classe média que muitos tacham (sem trocadilho) como defensora intransigente de privilégios de classe vai ser um tema para qualquer um que compre arroz (17,24% em impostos), feijão (17,24%), carne (23,99%), pasta de dente (31,37%), caderno (35%) ou gasolina (53%). E talvez aí a oposição a Dilma e o PT encontre a melhor brecha para se aproximar desse eleitor que vota cada vez mais pelo direito de trabalhar e consumir.
Em vez de criticarem o desempenho da indústria sob o PT – pífio, mas imaterial para a maior parte do eleitorado –, os presidenciáveis poderão explicar através de cada cupom fiscal como a voracidade dos impostos mal usados aliada à inflação impedem que o brasileiro consuma mais e se endivide menos. Cada nota se tornará um lembrete cotidiano do emaranhado tributário mal dirigido que, se não foi totalmente criado por Dilma, continua a bater recordes anuais de arrecadação e desperdício sob sua égide.
O desafio maior, porém, é transformar isto efetivamente em agenda de metas, e não apenas em promessa a ser enterrada pelo caríssimo toma-lá-dá-cá das alianças, que incham a máquina com a distribuição de cargos e privilégios.