14.2.13

O que não esperar do próximo papa





A Igreja Católica é uma das instituições mais fascinantes do mundo: milenar, mística, política, monárquica, dona de prédios e obras magníficas. Onipresente do nascimento à morte, mãe dos feriados mais arraigados de nossa cultura, familiar como uma madrasta rigorosa. Por isso, até não católicos se atraem pelo debate sobre o significado da renúncia de Bento 16 e a que rumos seu sucessor conduzirá o rebanho de 1 bilhão de fiéis. 

A saída de Ratzinger foi humildade ou jogada para fazer valer sua visão de Igreja para o século 21? Dificilmente saberemos. Mas o conservador Bento 16 foi ousado demais ao abrir mão da vitalicidade do cargo: a ideia de um pastor que desce do trono antes de subir ao Céu deixa a Igreja mais “material” do que o papel a que ela sempre se propôs – e o qual Bento apoiou em seu pálido papado – e é, a meu ver, má influência para quem tem por negócio convidar a uma vida acima das dores, desejos e pragmatismos.

Mas os cardeais que ele e João Paulo 2º nomearam são a totalidade dos eleitores do próximo conclave. Estão mais ou menos alinhados com o discurso de uma Igreja com mais ortodoxia e menos flexível às demandas temporais. E a verdade é que fiéis não querem que sua religião “se reconcilie” com o mundo: preferem-na segura, reconhecível e imutável.

Ninguém imagina que haverá um retorno maciço de católicos às missas caso a Igreja passe a recomendar camisinha ou tolere o aborto e a homossexualidade. O mais provável é que as pessoas fiquem exatamente onde estão: católicos praticantes na liturgia e católicos não-praticantes transando como quiserem, com um pouco menos de culpa.

A verdade é que tais dogmas não mudarão. Úteros operantes são o principal patrimônio das religiões institucionalizadas – a Bíblia é quase toda sobre isso. Ainda que alegue a autoridade concedida pelo Espírito Santo, é no volume de seu rebanho que as religiões mantêm influência e verbas. Tudo que baixe taxas de natalidade faz o rebanho minguar e assim diminui o número de casamentos, batismos, alunos e “salvações”. A Igreja apoia a abstinência sexual porque está escrito - e isso acelera casamentos. O que falta ao Vaticano é vender midiaticamente esse modo de vida como alegre, inspirador e até jovem, ensinado por um vovô bonachão.  

Em vez do papa reformador, a fumaça branca deverá anunciar um marqueteiro.

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