15.11.12

Deixem o ministro falar


Se todos fossem francos como ele, o que restaria da República, do PT, dos ministérios? (Foto: AGBr.)



Em sua descrição sobre os presídios brasileiros (recordo: “são medievais”, “preferia perder a vida a passar anos numa prisão brasileira”) o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, não nos disse nada que já não soubéssemos há tempos.

O desprezo aos direitos humanos no Brasil é institucionalizado, e nem os governos mais publicamente identificados com slogans de Justiça social foram capazes de contornar isso. Nossas prisões são depósitos desumanos de gente – sempre foram. Aliás, em termos de custódia de pessoas, o Estado brasileiro pode escrever enciclopédias sobre sua desumanidade patente ao longo dos anos: presos políticos, índios em reservas, doentes em manicômios e, mais recentemente, viciados em crack podem dar testemunho dos invisíveis campos de concentração para as gentes indesejáveis.

“Mas são presos”, argumentam alguns, como se a Justiça e o sistema carcerário (um de seus braços) tivesse o direito de ser injusta ou torpe com os torpes. Ao contrário, é pela Justiça que o Estado tem de dar o mais alto exemplo, para que os presos sejam induzidos a uma correção de suas condutas. Nossa legislação não fala em regime fechado e martirizante, e no entanto é o que temos. Tampouco fala em acesso ao mundo exterior para apenados de alto risco, mas é isso que damos a milhares que ainda comandam ações criminosas. Em suma, poucas coisas são mais obsoletas e imprestáveis do que um presídio brasileiro. E dez anos destas culpas já cabem ao PT de Lula e Dilma.

Um ministro da Justiça não querer ir para uma cadeia brasileira é até razoável – não conheço ninguém que queira ir para qualquer cadeia, independentemente dos motivos que o levem a cogitar uma etapa lá. Mas gostaria de saber como se sairiam outros ministros em declarações hipotéticas, pois suspeito que a década se perdeu também em outras áreas.

Depois de 10 anos de PT, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, confiaria filhos ou netos à escola pública? O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, se permitiria tratar uma doença grave no SUS? O ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, se aventuraria num trajeto de ônibus urbano num rush de São Paulo, Rio ou Recife, recheado de carros novos a IPI baixo? Se deixarmos os ministros responderem a tais perguntas – para alguns demagógicas –, perceberemos a inconveniência das opiniões honestas para os donos da década.

Um comentário:

Anônimo disse...

10 anos para arrumar a saúde, a educação e o sistema prisional de um país grande e complexo como o Brasil dava pra fazer com uma mão nas costas.