Mais dois poemas infantis que saíram na Folha de S. Paulo.
Prometo pôr em breve coisas mais maduras. Abraços.
O dia em que ninguém acordou
Estranhou ao perceber
Que a manhã chegara
sem ninguém despertar.
A cidade era um vazio.
Nas ruas, nenhum carro,
nas praças, nenhum pombo;
ninguém quis nada
com aquela terça-feira.
Passando pelas casas
ouviu roncos, assovios
e bocejos, repetindo
um mesmo sonho
ainda no começo.
Era um mundo inteiro
a babar no travesseiro.
Achou aquilo errado
e decidiu que não podia
voltar pra sua cama.
Foi berrar pelos bairros
contra o sono e a mesmice,
pois daquela chatice
não precisa não senhor.
E quando todos cochilavam,
ele virou despertador
pra no mínimo contar
que sonhava diferente.
Publicado na Folhinha de 5/3/2005
Medo do escuro
para Luca
Tinha medo do escuro
e, sempre ao fim da tarde,
apostava corrida
com a noite.
Atravessava a sala
naquele vôo às pressas
e aterrissava a salvo
nas cobertas.
Não queria ver Lua
nem contar as estrelas:
"Se elas só vêm no escuro,
pra que vê-las?!"
Até que se deu conta
De que bem mais escura
Era a noite guardada
Nas cobertas.
Içou a persiana,
e, olhando o céu aberto,
passou pela janela
uma certeza.
Quando perdeu o medo,
viu beleza.
Publicado na Folhinha de 27/11/2004
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