10.9.02

Paranóia

No alto daquele prédio,
Naquela calçada,
Fitando da janela,
Estão todos, todos
Contra mim.

Unidos sob um sólido ideal, repetem meu nome em sórdidas tramóias,
Sou seu mais digno alvo, última coluna a derrubar.

Na mesa daquele restaurante,
Na escadarias do Municipal,
Nas estações do metrô,
Todo e qualquer instante é pouco para eles, eles todos, todos contra mim.

Eles e seus malditos códigos, sinais,
Criptografias, isso que atravessa a mente e mente e mente e mente,
Esse calvário diariamente entre o que já não sei se é
E o que é simplesmente.

Eles me dizem em silêncio as coisas que não ouço
E você no meu lugar talvez nem entendesse.

É verdade é sério é de verdade e eu juro que é
Acredito na minha intuição
Tanto quanto em minha imaginação.

Atrás de você,
Ao nosso redor,
Diante da sombra trêmula que vela por nós dois,
Eles conspiram, eles querem sua ajuda,
Eles e você, sim,
São talvez vocês todos, juntos,
Todos contra mim.

Eles querem me matar porque eu os fiz viver e posso assassiná-los
E você no meu lugar talvez sobrevivesse.
Só que eu nem posso estar no seu lugar.

(O horizonte se afasta lentamente de mim enquanto
Um sopro gélido de vento pousa a mão sobre o meu ombro e some.)

No elevador,
No túmulo,
No Céu,
Eles, você e eu, Ele, enfim,
Todos juntos, vamos, todos nós agora
Contra mim.

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